sexta-feira, 17 de maio de 2013
capitulo 14
O homem, nascido da mulher, é de poucos dias e farto de inquietação.
Sai como a flor, e murcha; foge também como a sombra, e não permanece.
E sobre este tal abres os teus olhos, e a mim me fazes entrar no juízo contigo.
Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.
Visto que os seus dias estão determinados, contigo está o número dos seus meses; e tu lhe puseste limites, e não passará além deles.
Desvia-te dele, para que tenha repouso, até que, como o jornaleiro, tenha contentamento no seu dia.
Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos.
Se envelhecer na terra a sua raiz, e o seu tronco morrer no pó,
Ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como uma planta.
Porém, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, então onde está ele?
Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota, e fica seco,
Assim o homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais céus, não acordará nem despertará de seu sono.
Quem dera que me escondesses na sepultura, e me ocultasses até que a tua ira se fosse; e me pusesses um limite, e te lembrasses de mim!
Morrendo o homem, porventura tornará a viver? Todos os dias de meu combate esperaria, até que viesse a minha mudança.
Chamar-me-ias, e eu te responderia, e terias afeto à obra de tuas mãos.
Mas agora contas os meus passos; porventura não vigias sobre o meu pecado?
A minha transgressão está selada num saco, e amontoas as minhas iniqüidades.
E, na verdade, caindo a montanha, desfaz-se; e a rocha se remove do seu lugar.
As águas gastam as pedras, as cheias afogam o pó da terra; e tu fazes perecer a esperança do homem;
Tu para sempre prevaleces contra ele, e ele passa; mudas o seu rosto, e o despedes.
Os seus filhos recebem honra, sem que ele o saiba; são humilhados; sem que ele o perceba;
Mas a sua carne nele tem dores; e a sua alma nele lamenta.
capitulo 15
Então respondeu Elifaz o temanita, e disse:
Porventura proferirá o sábio vã sabedoria? E encherá do vento oriental o seu ventre,
Argüindo com palavras que de nada servem, e com razões, de que nada aproveita?
E tu tens feito vão o temor, e diminuis os rogos diante de Deus.
Porque a tua boca declara a tua iniqüidade; e tu escolhes a língua dos astutos.
A tua boca te condena, e não eu, e os teus lábios testificam contra ti.
És tu porventura o primeiro homem que nasceu? Ou foste formado antes dos outeiros?
Ou ouviste o secreto conselho de Deus e a ti só limitaste a sabedoria?
Que sabes tu, que nós não saibamos? Que entendes, que não haja em nós?
Também há entre nós encanecidos e idosos, muito mais idosos do que teu pai.
Porventura fazes pouco caso das consolações de Deus, e da suave palavra que te dirigimos?
Por que te arrebata o teu coração, e por que piscam os teus olhos?
Para virares contra Deus o teu espírito, e deixares sair tais palavras da tua boca?
Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce da mulher, para ser justo?
Eis que ele não confia nos seus santos, e nem os céus são puros aos seus olhos.
Quanto mais abominável e corrupto é o homem que bebe a iniqüidade como a água?
Escuta-me, mostrar-te-ei; e o que tenho visto te contarei
(O que os sábios anunciaram, ouvindo-o de seus pais, e o não ocultaram;
Aos quais somente se dera a terra, e nenhum estranho passou por entre eles):
Todos os dias o ímpio é atormentado, e se reserva, para o tirano, um certo número de anos.
O sonido dos horrores está nos seus ouvidos; até na paz lhe sobrevém o assolador.
Não crê que tornará das trevas, mas que o espera a espada.
Anda vagueando por pão, dizendo: Onde está? Bem sabe que já o dia das trevas lhe está preparado, à mão.
Assombram-no a angústia e a tribulação; prevalecem contra ele, como o rei preparado para a peleja;
Porque estendeu a sua mão contra Deus, e contra o Todo-Poderoso se embraveceu.
Arremete contra ele com a dura cerviz, e contra os pontos grossos dos seus escudos.
Porquanto cobriu o seu rosto com a sua gordura, e criou gordura nas ilhargas.
E habitou em cidades assoladas, em casas em que ninguém morava, que estavam a ponto de fazer-se montões de ruínas.
Não se enriquecerá, nem subsistirá a sua fazenda, nem se estenderão pela terra as suas possessões.
Não escapará das trevas; a chama do fogo secará os seus renovos, e ao sopro da sua boca desaparecerá.
Não confie, pois, na vaidade, enganando-se a si mesmo, porque a vaidade será a sua recompensa.
Antes do seu dia ela se consumará; e o seu ramo não reverdecerá.
Sacudirá as suas uvas verdes, como as da vide, e deixará cair a sua flor como a oliveira,
Porque a congregação dos hipócritas se fará estéril, e o fogo consumirá as tendas do suborno.
Concebem a malícia, e dão à luz a iniqüidade, e o seu ventre prepara enganos.
capitulo 16
Então respondeu Jó, dizendo:
Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos.
Porventura não terão fim essas palavras de vento? Ou o que te irrita, para assim responderes?
Falaria eu também como vós falais, se a vossa alma estivesse em lugar da minha alma, ou amontoaria palavras contra vós, e menearia contra vós a minha cabeça?
Antes vos fortaleceria com a minha boca, e a consolação dos meus lábios abrandaria a vossa dor.
Se eu falar, a minha dor não cessa, e, calando-me eu, qual é o meu alívio?
Na verdade, agora tu me tens fatigado; tu assolaste toda a minha companhia,
Testemunha disto é que já me fizeste enrugado, e a minha magreza já se levanta contra mim, e no meu rosto testifica contra mim.
Na sua ira me despedaçou, e ele me perseguiu; rangeu os seus dentes contra mim; aguça o meu adversário os seus olhos contra mim.
Abrem a sua boca contra mim; com desprezo me feriram nos queixos, e contra mim se ajuntam todos.
Entrega-me Deus ao perverso, e nas mãos dos ímpios me faz cair.
Descansado estava eu, porém ele me quebrantou; e pegou-me pela cerviz, e me despedaçou; também me pôs por seu alvo.
Cercam-me os seus flecheiros; atravessa-me os rins, e não me poupa, e o meu fel derrama sobre a terra,
Fere-me com ferimento sobre ferimento; arremete contra mim como um valente.
Cosi sobre a minha pele o cilício, e revolvi a minha cabeça no pó.
O meu rosto está todo avermelhado de chorar, e sobre as minhas pálpebras está a sombra da morte:
Apesar de não haver violência nas minhas mãos, e de ser pura a minha oração.
Ah! terra, não cubras o meu sangue e não haja lugar para ocultar o meu clamor!
Eis que também agora a minha testemunha está no céu, e nas alturas o meu testemunho está.
Os meus amigos são os que zombam de mim; os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus.
Ah! se alguém pudesse contender com Deus pelo homem, como o homem pelo seu próximo!
Porque decorridos poucos anos, eu seguirei o caminho por onde não tornarei.
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